Considerações sobre Freios do jipe Candango    (texto de Fabio Guilhem de Almeida)

 

                                                                                   

1. GENERALIDADES

Os DKW Candango tanto 4 como 2 geralmente apresentam bastante problemas de freios. Eles muitas vezes se tornam ineficazes, travam, não freiam igualmente nas 4 rodas, tem deslocamentos muito grande no pedal, etc.


Grande parte destes problemas deriva do fato que os sistemas de freios dos dois modelos, C2 e C4, são completamente diferentes e sucessivas reformas misturam os dois sistemas produzindo efeitos indesejáveis.


Até as tubulações de freio são diferentes nos dois modelos.


O Candango 4 tem todos os cilindros de roda iguais nas 4 rodas, constituídos por cilindros independentes em cada roda.


O Candango 2 recebeu uma adaptação brasileira, os cilindros das rodas dianteiras são duplos e independentes e os traseiros são duplos em um único cilindro com êmbolos justapostos parecido com o sistemas do Belcar e Vemaguet.


Os cilindros mestres são diferentes em diâmetro e volume do compartimento de óleo. O cilindro do Candango 4 tem um reservatório retangular de maior capacidade que o circular do Candango 2.


O sistema de freio do Candango 2 é parecido com os da Vemaguet e do Belcar de 1958 a 1962. Em 1963 a Vemag alterou o sistema de freios de seus veículos de serie.

 

2. DIMENSÕES DOS COMPONENTES

O QUADRO seguinte indica os diâmetros dos cilindros mestre e cilindros de roda adotados nos diversos produtos Vemag:


Nota-se que os sistemas de freios do Candango 2 e dos Belcar e Vemaguet de 1958 a 1962 são iguais.


O Candango 4 tem cilindro mestre e cilindros de roda de diâmetros maiores que os do Candango 2.


Mistura destes componentes provocam vários efeitos adversos, principalmente, no deslocamento no cilindro mestre e na força de frenagem.

 

3. CALCULO DOS DESLOCAMENTOS DOS EMBOLOS


O deslocamento do cilindro mestre em função do deslocamento dos cilindros das rodas, admitindo que o óleo de freio é incompressível, pode ser calculado pela equação da continuidade admitindo-se que o volume que sai do cilindro mestre é igual ao que entra nos oito cilindros das rodas. Resulta na seguinte fórmula final:

Onde:

Fixando-se os deslocamentos do cilindro de rodas de 1 mm a 10 mm de 1 em 1 mm, pode-se calcular os deslocamentos esperados dos cilindros mestres para o Candango 2 e Candango 4 com os componentes originais. O QUADRO a seguir resume estes resultados:

O GRAFICO mostra bem os resultados:

Vê-se a preocupação do projetista, de manter a relação deslocamento cilindro mestre x deslocamento cilindros de roda muito semelhantes para não ser necessária a mudança da geometria dos pedais.


Nota-se, também, que, se o embolo do cilindro de roda se deslocar 10 mm (1 cm), o embolo do cilindro mestre se desloca 90 mm (9 cm).


4. CALCULO DAS FORÇAS TRANSMITIDAS


A força aplicada no cilindro mestre é transmitida aos cilindros das rodas pela pressão do óleo hidráulico. Desprezando-se a elasticidade do óleo hidráulico pode-se admitir que a força aplicada ao cilindro mestre se transmite pela pressão aos 8 cilindros de roda.


Pela igualdade das pressões pode-se calcular a força resultante aplicada pelos cilindros de roda nas sapatas de freio.


Normalmente, nos veículos os diâmetros dos cilindros de roda são diferentes na traseira e na dianteira. São 4 conjuntos iguais na traseira e 4 conjuntos iguais na dianteira.


Assim, pela igualdade das pressões pode-se calcular a força total aplicada pelos cilindros de rodas dianteiros e traseiros pelas expressões:

Onde:

Com estas fórmulas pode-se calcular, para várias forças aplicadas no cilindro mestre, as forças aplicadas nas sapatas pelos cilindros de roda para os componentes originais dos Candango 2 e Candango 4. O quadro a seguir resume estes resultados:

      

      

Nota-se que, para o Candango 4, as forças aplicadas nas sapatas, tanto dianteiras como traseiras, são iguais por sua própria característica de projeto. O sistema de mangas de eixo traseiras e dianteiras são iguais, o que permite a troca dos componentes dianteiros com traseiros. A única diferença é uma arruela deslizante de 0,2 mm de espessura colocada nas mangas dianteiras para facilitar o giro das mangas pelo volante.


Já no Candango 2 o sistema é diferente. Os cilindros dianteiros e traseiros são de diâmetros diferentes, aplicando forças diferentes nas sapatas dianteiras e traseiras. Provavelmente visando aplicar esforços de frenagem diferentes nos dois eixos para melhorar o equilíbrio. Aplica 54% do esforço na dianteira e 46% do esforço na traseira.


5. MISTURA DE COMPONENTES DOS DOIS VEICULOS


Na prática o que pode estar acontecendo com alguns Candangos é que os componentes dos dois veículos estão misturados após alguns reparos ou mesmo restaurações.


Admitindo que o cilindro mestre do Candango 2 tenha sido instalado em um Candango 4, o que é fácil de ocorrer pois este cilindro era igual ao do Belcar e Vemaguet que eram mais fáceis de encontrar no mercado. E que os cilindros de roda foram mantidos originais. O gráfico abaixo mostra os deslocamentos esperados:

Os esforços transmitidos às sapatas de freio são os do quadro abaixo:

       

O resultado desta mistura é que o deslocamento do pedal de freio praticamente dobra. Se o cilindro de roda do Candango 4 se deslocar 6 mm, o cilindro mestre original se desloca 54 mm. Se for montado um  cilindro mestre de Candango 2, para os mesmos 6 mm nas rodas o cilindro mestre se desloca de 96 mm e o freio vai ficar baixo pois o curso do pedal vai aumentar.  A eficiência do freio deve melhorar aplicando 200 Kgf (massa de 20 Kg), as rodas que recebiam em cada eixo 903 Kgf passam a receber 1602 Kgf (77% a mais de força). Mas provavelmente o pedal vai atingir o assoalho!

Admitindo que o cilindro mestre do Candango 4 tenha sido instalado em um Candango 2. E que os cilindros de roda foram mantidos originais do C2. O gráfico abaixo mostra os deslocamentos esperados:

Os esforços transmitidos às sapatas de freio são os do quadro abaixo:

Resultado desta mistura mistura o deslocamento do pedal de freio fica menor. Se os cilindros de roda do Candango2 se deslocarem 6 mm com o cilindro mestre  original (de Candango 2) o deslocamento seria 52 mm. Instalado um  cilindro mestre  de Candango 4 este  deslocamento passaria a ser  29 mm o freio vai ficar alto.  A eficiência do freio deve piorar aplicando 200 Kgf (massa de 20 Kg), as rodas dianteiras que recebiam 937 Kgf passam a receber 528 Kgf (56% a menos de força) e as rodas traseiras que recebiam 798 Kgf passam a receber apenas 450 Kgf (56% amenos). Como resultado o pedal vai ficar alto e a capacidade de frenagem vai cair em 56% quase a metade. Pela tabela para compensar este efeito seria necessário aplicar ao invés de 200 Kgf no pedal de aplicar 235 Kgf, isto é  35 Kgf a mais (15%).


6. CONCLUSÕES


Devido a idade dos nossos Candangos, se quiserem freios originais mais eficientes deve-se antes de mais nada:

 

 

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