Audi tupiniquim: a oportunidade do Fissore com motor 4T  -  por Erik Oswaldo von Eye

 

É Necessário analisar o contexto da época. A Vemag produzindo veículos sob licença, e o controle acionário da Auto Union mudando de mãos. A Daimler adquiriu 88% das ações da Auto Union em 1o de abril de 1958. Certamente isso teve repercussão no relacionamento entre a Auto Union e a Vemag. E seis anos depois, a Daimler Benz vendia o controle acionário para a Volkswagenwerk. Imagino o que devem ter sido esses dois momentos na cabeça dos dirigentes do grupo Novo Mundo Vemag.


Creio que não seja incorreto afirmar que a Vemag entrou de cabeça na parceria com a Auto Union. Começou vendendo aqui um produto já descontinuado na Alemanha, e depois abraçou a linha F94 e o Candango como se abraça a um filho, e investiu pesado em Marketing e desenvolvimento. Por mais problemas que pudesse ter, a Vemag aperfeiçoou o F94, criou o Fissore e apoiou a criação do Malzoni/Puma DKW. Ficar sem produto de uma hora para outra deve ter sido uma punhalada e tanto para uma empresa que era genuinamente brasileira e apostara todas suas fichas no DKW.


Muita gente diz que a Vemag deveria ter olhado para o futuro e perceber que o motor dois tempos estava condenado. Mas para o contexto da época, o produto ainda seria viável no Brasil pelo menos até o início dos anos 70. Basta ver que o motor dois tempos continuou sendo utilizado em outros mercados semelhantes ao nosso pelo menos por mais uma década depois do fim da produção alemã e brasileira.


Depois obviamente teria que ser substituído, mas isso ocorreu imediatamente na Alemanha. Se mantidas as parcerias, pelo menos o Fissore teria mais uns bons anos pela frente, com versões perua e quatro portas, e poderia ganhar o mesmo motor 4 tempos do F103. Curioso que na Alemanha a VW não tenha se importado com a concorrência com a os Tipo 3 e 4, mas aqui no Brasil o destino dos DKW tenha sido o caixão, para dar lugar ao VW de apelido semelhante.


O mais curioso é que foi necessário tanto stress, fábrica desativada e empregos perdidos, para a VW lançar aqui, apenas 7 anos depois, um legítimo Audi 80 FastBack, o nosso ótimo e saudoso Passat. Que deu início a total e definitiva reformulação da linha VW.

Poderia a Vemag no Brasil ter tido o mesmo destino da Auto Union na Alemanha? Ter se transformado na Audi tupiniquim? Infelizmente, nunca saberemos.     

                                
É inegável que, da forma e no contexto em que foi inserido, o projeto do Fissore teve mais erros que acertos: Jorge Lettry pediu um esportivo, mas a diretoria encomendou um cupê de luxo, que foi concorrer num mercado de sedans. Usava o mesmo motor 1000 dos Belcar mas era mais pesado, enquanto todos seus concorrentes tinham motores com mais de dois litros. Se tinha tudo para dar errado, pelo menos em estilo ele era imbatível. No Brasil não existia nada que chegasse perto dele em design. O Novo Aero-Willys 2600, lançado na mesma época, parecia dez anos mais velho. Era belo e moderno mesmo comparado com a maioria dos carros europeus de sua época. Era inclusive mais bonito que o DKW F102. A revista 4 Rodas levou um para passear pelo velho continente, e causou furor. E convenhamos, o Fissore é muito mais bonito que o VW 1600, cujo projeto original EA 97 datava de 1960. Por isso, ouso dizer que ele ainda seria adequado no início dos anos 1970.


O pior é que nem é possível dizer que o EA 97 (VW 1600) fosse um produto melhor. Ainda que se diga que o nicho do VW era o do já ultrapassado Belcar, ele durou apenas 3 anos no mercado, menos até que o Fissore. Se este tivesse sido reposicionado em preço e ganhasse quatro portas, perua e motor 4 tempos, provavelmente duraria mais tempo que o Zé do Caixão. Ok, a VW Variant foi um produto bem sucedido, secundada pelo TL, mas esses na verdade apenas aproveitaram o vácuo deixado pela Vemaguet e pelo Belcar. E se ao invés desses VW permanecesse a linha Fissore com motor 4 tempos? Certamente enfrentariam em condições de igualdade o Ford Corcel, com duas, quatro portas e perua e tração dianteira. Fez um enorme sucesso, seus compradores torciam o nariz para os VW a ar.


Bom, são apenas suposições. Uma pena não ter sido construído sequer um protótipo do Fissore com o motor de 4 tempos do F103/Audi 60.

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